quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DIREITOS E DEVERES DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

INFORMAÇÕES SOBRE LEIS:CONCEITOS IMPORTANTES
Direito: “o que é justo, reto e conforme a lei.” Os principais direitos das pessoas com deficiência foram reconhecidos pela Constituição Federal de 1988, que fala da Seguridade Social.
Dever: é a obrigação moral ou legal de fazer algo. Quase sempre é a contra partida do direito. Por exemplo, o Governo e a Família têm o dever de fazer valer os direitos da criança e do adolescente.
Deficiência: é todo e qualquer comprometimento que afeta a integridade da pessoa e traz prejuízos na sua locomoção, na coordenação de movimento, na fala, na compreensão de informações, na orientação espacial ou na percepção e contato com outras pessoas.
Cidadania: é o direito de ter direitos e o dever de respeitar os direitos dos outros.
Políticas Públicas: são os programas e ser viços gratuitos organizados para atender os direitos da população. São decididas pelo governo em parceria com a sociedade (nos conselhos) e executadas pela Prefeitura, Governo Estadual e Governo Federal.
Poder Público: é a Prefeitura, o Governo Estadual ou o Federal. É operado pelos governantes eleitos e pelos servidores públicos.
AS LEIS E OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
A Constituição Federal de 1988 abriu caminho para várias legislações que afirmam a cidadania do povo brasileiro. Pela primeira vez uma lei no país fala da Seguridade Social, que é a proteção social para quem contribui e também para quem não contribui com a Previdência Social. Com isso ela tornou universal o direito à Saúde e à Assistência Social.
A Lei Federal n. 7.853, de 24 de outubro de 1989 é a mais importante das legislações que tratam os direitos das pessoas com deficiência. Esta lei foi regulamentada pelo Decreto 3298, de 20/12/1999. Nessas legislações encontramos a seguinte classificação das deficiências:
Deficiência Física – Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções.
Deficiência Mental – Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas tais como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização da saúde e segurança, convivência, habilidades acadêmicas, lazer, trabalho.
Deficiência Visual – Caracterizada por uma limitação no campo visual Pode variar de cegueira total à visão subnormal. Neste caso, ocorre diminuição na percepção de cores e mais dificuldades de adaptação à luz.
Deficiência Auditiva – Perda total ou parcial da capacidade de compreender a fala através do ouvido. Pode ser surdez leve, nesse caso, a pessoa consegue se expressar oralmente e perceber a voz humana com ou sem a utilização de um aparelho. Pode ser também surdez profunda.
Deficiência Múltipla – Associação de duas ou mais deficiências.
Crimes previstos na Lei Federal n. 7853/89 praticados contra as pessoas com deficiência:
a)    Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa a inscrição do aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado por ser este uma pessoa com deficiência.
b)   Impedir o acesso a qualquer cargo público por ser uma pessoa com deficiência.
c)    Negar trabalho ou emprego por ser uma pessoa com deficiência.
d)   Recusar retardar ou dificultar a internação hospitalar ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar ou ambulatorial, quando possível, a uma pessoa com deficiência.
Como a pessoa com deficiência pode agir contra tais crimes?
Sempre que um direito for ameaçado ou violado o primeiro passo é documentar tal ato. Por exemplo, se uma vaga é negada, deve-se pedir a quem negou para colocar isso no papel e assinar. No caso de ameaças ou violações de direitos de crianças e adolescentes deve-se procurar o Conselho Tutelar e registrar a denúncia. Outro caminho é a Justiça. Com as provas da violação qualquer pessoa com mais de 18 anos pode apresentar representação diretamente junto a uma delegacia de polícia ou diretamente junto ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público Estadual e à Comissão de Direitos Humanos da OAB.
OS PRINCIPAIS DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA
Convivência familiar e comunitária
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), a Lei 7853 e o Decreto 3298 de 1989 estabelecem que todas as crianças e todos os adolescentes inclusive os que têm deficiência devem conviver com dignidade, respeito e liberdade com seus familiares e na comunidade onde vivem. Para que isso seja assegurado, eles têm direito a brincar, estudar, ser atendidos em entidades sociais e serviços de saúde, na região onde moram.
Um dos mais importantes critérios para que isso aconteça tem a ver com o direito de ir e vir, que está relacionado com acessibilidade. E o que é isso? É a possibilidade e a condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.
EDUCAÇÃO
A Constituição Federal em seu Artigo 205 diz que a Educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício e sua qualificação para o trabalho.
No Artigo 208, encontramos que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
(…) III – atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade.
ESPORTE, LAZER, CULTURA
Segundo o Programa de Ação Mundial para as pessoas com deficiência (ONU, 2001), as oportunidades de freqüentar atividades recreativas, restaurantes, praias, teatros, bibliotecas, cinemas, estádios esportivos, hotéis e outras formas de lazer devem ser para todos os cidadãos. Precisam ser adotadas medidas para que as pessoas com deficiências possam ser motivadas a usufruir integralmente desses serviços tendo acesso ainda às atividades culturais (dança, música, literatura, teatro e artes plásticas), utilizando ao máximo suas qualidades criativas, artísticas e intelectuais em prol de si mesmas e da comunidade.
SAÚDE
A Lei Federal n. 7853/89 e o Decreto 3298 asseguram que a pessoa com deficiência (e seus pais em caso de criança) tem direito a receber informações médicas, inclusive sobre os cuidados que ela deve ter consigo, notadamente no que se refere à questão do planejamento familiar, às doenças do metabolismo e seu diagnóstico e ao encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de deficiência.
Existe lei que garanta a habilitação ou a reabilitação da pessoa com deficiência?
Sim, conforme o art. 2º parágrafo único, alíneas “c” e “e” da Lei Federal n. 7853/89; artigos 17, 18, 21 e 22 do Decreto Federal 3298/99 e artigo 89 da Lei Federal n. 8213 de 8 de dezembro de 1991, o Poder Público está obrigado a fornecer uma rede de serviços especializados em habilitação e reabilitação, bem como garantir o acesso nos estabelecimentos de saúde público e privado.

E se a pessoa com deficiência não puder se dirigir pessoalmente ao hospital ou posto de saúde?
É assegurado o direito a atendimento domiciliar de saúde pelo artigo 2º, inciso II, alínea “e”, da Lei Federal n. 7853/89, e pelo artigo 16, inciso V, do Decreto Federal n. 3298/99, à pessoa com deficiência física grave.
A pessoa com deficiência tem direito a instrumentos que o auxiliem a superar suas limitações físicas?
Sim, conforme os artigos 18,19 e 20 do Decreto 3298/99 a pessoa com deficiência tem direito a obter, gratuitamente, órteses e próteses (auditivas, visuais e físicas) junto às autoridades de saúde (federais, estaduais ou municipais) a fim de compensar suas limitações nas funções motoras, sensoriais ou mentais.
Existe também o direito a medicamentos?
Sim, o Poder Público está obrigado a fornecer gratuitamente medicamentos necessários para o tratamento da pessoa com deficiência. Se não for fornecido deve-se procurar um advogado ou a Defensoria Pública, pois a Justiça constantemente dá ganho de causa nessas ações.
Que providências podem ser tomadas em caso de a deficiência ocorrer por erro médico?
O cidadão deve procurar um advogado e a Promotoria de Justiça do Erro Médico. Ele poderá requerer o tratamento e, inclusive, uma indenização se ficar comprovado o erro.
Qual o direito da pessoa com deficiência internada em instituição hospitalar?
É assegurado pelo artigo 26, do Decreto n. 3298/99 o atendimento pedagógico à pessoa com deficiência internada em instituição por prazo igual ou superior a um ano, com o intuito de assegurar sua inclusão ou manutenção no processo educacional.
A pessoa com deficiência tem direito a desfrutar de plano de saúde para tratamento de sua deficiência?
Sim, conforme o artigo 14 da Lei Federal n. 9656/98 de 03 de junho de 1998, não pode haver impedimento de participação nos planos ou seguros privados de assistência à saúde às pessoa com deficiência.
TRABALHO
Quais são os direitos das pessoas com deficiência no que se refere aos concursos públicos (sociedade de economia mista, autarquias, fundações públicas e também União, Estados, Municípios e Distrito Federal)?
Há vários aspectos a serem considerados:
  1. A Lei Federal n. 8112, de 11 de dezembro de 1990, art 5º, reserva um percentual de cargos e empregos públicos para as pessoas com deficiência e define os critérios para sua admissão.
  2. Em concursos públicos federais (no âmbito da Administração Pública Federal, ou seja, empresas públicas federais, sociedades de economia mista pública, autarquias federais, fundações públicas federais e também a própria União) até 20% das vagas são reservadas às pessoas com deficiência. Desta forma, este percentual não é o mesmo para cada estado, município ou para o Distrito Federal, porque é a lei de cada uma dessas entidades que irá estabelecer o percentual de quotas de admissão para as pessoas com deficiência. Por exemplo, no Estado de Minas Gerais, Constituição Estadual, art. 28 e a Lei Estadual n. 11867 de 28 de julho de 1995, tal percentual é de 10%
  3. As pessoas com deficiência têm preferência ante os demais, caso aprovado no concurso, independente de sua classificação.
  4. Caso nenhuma pessoa com deficiência seja aprovada em um concurso, desconsideram-se as vagas reservadas para eles.
O que acontece quanto ao trabalho em empresa privada?
A lei Federal n. 8213/91, art. 93, prevê proibição de qualquer ato discriminatório no tocante a salário ou critério de admissão do emprego em virtude de ter a deficiência.
A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência, habilitadas. O percentual a ser aplicado é sempre de acordo com o número total de empregados das empresas, dessa forma:
  1. Até 200 empregados – 2%
  2. De 201 a 500 – 3%
  3. De 501 a 1000 – 4%
  4. De 1001 em diante – 5%
Toda pessoa com deficiência tem direito a reserva de vagas em concursos públicos ou em empresas privadas?
Não, nem todas as quotas de reserva de empregos destinam-se a qualquer pessoa com deficiência, mas sim se destinam aos que estejam habilitados ou reabilitados, ou seja, que tenham condições efetivas de exercer determinados cargos. É preciso, então, que apresentem nível suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso e reingresso no mercado de trabalho e participação na vida comunitária.
O que é habilitação e reabilitação?
É o processo que permite à pessoa com deficiência adquirir desenvolvimento conforme o art 89 da Lei Federal n. 8213/91, arts 17, 18, 21 e 22 do Decreto n. 3298/99 e Ordem de Serviço n. 90 do Ministério da Saúde e Previdência Social. Para maiores informações sobre colocação e recolocação no mercado de trabalho deve-se procurar a Delegacia Regional do Trabalho e/ou a CAADE.
Como fica a jornada de trabalho para o responsável com os cuidados com a pessoa com deficiência?
Fica o Poder Público autorizado a reduzir para 20 (vinte) horas semanais a jornada de trabalho do servidor público estadual legalmente responsável pela pessoa com deficiência em tratamento especializado. Tal benefício é concedido por seis meses podendo ser renovado por igual período de acordo com a necessidade (art 1º. e 3º. da Lei Estadual n. 9401 de 18 de dezembro de 1986. (Minas Gerais).

REFERÊNCIAS IMPORTANTES EM BELO HORIZONTE/MG
Conselho Tutelar: órgão público que recebe, atende e dá encaminhamentos a denúncias de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Telefones: Barreiro – 3277 9115; Centro Sul – 3277 4544; Leste – 3277 4407; Nordeste – 3277 5674; Noroeste – 3277 7224; Norte – 3435 1113; Oeste – 3277 7008; Pampulha – 3491 6266; Venda Nova – 3277 5512.
Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência: decide sobre os programas e serviços que devem existir na cidade para as pessoas com deficiência. Telefone: 3277 4694.
Promotoria dos Direitos da Pessoa com Deficiência: defende os direitos da pessoa com deficiência. Telefone: 3335 8375.
CAAD – Coordenadoria de Apoio e Assistência ao Deficiente: órgão estadual que coordena as políticas públicas para a pessoa com deficiência. Dentro do CAAD funciona um serviço de encaminhamento a emprego. Telefone: 3275 4145.
(Baseado em material Muriki – Formação – Prefeitura de Belo Horizonte, MG)

EPILEPSIA - História da Epilepsia



A palavra epilepsia

Utilizada pela primeira vez por Avicena (980-1037), no século 11, é originada do verbo grego epilambanein que significa ser tomado, atacado ou dominado, ou seja, trata-se de um verbo que sugere que uma força externa provoca a crise. Para os antigos, uma divindade ou um espírito diabólico. Epilepsia, é definida como uma moléstia cerebral, que se manifesta por acessos, em há abolição completa dos sentidos e da razão, acompanhados de movimentos convulsivos.

 

 
 
Pré-história

Através dos monumentos, das inscrições arcaicas e das ossadas humanas foi-nos possível decifrar o pensamento do homem em suas primeiras e penosas realizações. Provavelmente desde o Período Neolítico existiam cirurgiões hábeis e nas ossadas estudadas por Lucas-Championnière conservadas no Museu do Homem, de Paris, foram encontrados crânios trepanados e cicatrizados, prova de operações realizadas no ser vivo. Há quem afirme que tais trepanações tivessem por finalidade libertar os maus espíritos ou demônios presos na caixa craniana de alguns doentes, entre os quais pessoas com epilepsia, mas esta conclusão é apenas uma especulação; porém, sem dúvida, este procedimento foi utilizado no tratamento de traumatismos cranianos, fato já descrito em detalhes no trabalho hipocrático Sobre os Ferimentos na Cabeça. A trepanação (do grego trupanon, perfurar), foi praticada na Idade da Pedra, no Egito Antigo, no período pré-histórico e clássico da Grécia e de Roma, no Médio e Extremo Oriente, entre as tribos célticas, na China, Índia, entre os maias, astecas, incas e índios brasileiros, nos mares do sul e na África equatorial, onde a trepanação ainda é realizada. Na Europa, da Idade Média ao século 18, a trepanação era tão comum como a sangria e procedimentos múltiplos não eram infreqüentes.

 

 
Este foi um método de tratamento utilizado naepilepsia traumática e a primeira série de pacientes a ele submetido foi relatada por Benjamin W. Dudley (1783-1870), que popularizou esta modalidade de cirurgia nos Estados Unidos na era pré-Listeriana. Baseado na suposição que epilepsia era freqüentemente causada por compressão cerebral por fraturas de crânio, este cirurgião de Kentucky trepanou cinco pacientes entre 1818 e 1827, três dos quais permaneceram sem crises e dois, melhoraram. Na Antigüidade, os sinais de cicatrização, presentes em alguns crânios, indicam que nem todas as pessoas submetidas a trepanação morriam e que 3000 anos antes de nossa época já se praticava este tipo de intervenção.


Hieronymus Bosch (c.1450-1515). “A Cura da Loucura” ou “A Operação da Pedra”. Museu do Prado, Madri. Este quadro mostra uma pessoa realizando uma incisão cirúrgica no escalpo. Os removedores de pedra eram pessoas itinerantes que alegavam poder curar todas as formas de doenças mentais. A inscrição diz: Mestre, remova as pedras da loucura, meu nome é ‘bassê castrado’. Estes dizeres refletem uma crença à época do Renascimento de que a loucura, a estupidez e a tolice eram devidas à presença de pedras na cabeça. ‘Bassê castrado’ era um epíteto para ingênuo. Uma tulipa, e não uma pedra, está sendo removida do crânio; no século 16, na Holanda, a tulipa era símbolo da estupidez. Segundo outra interpretação, não é uma tulipa que está sendo removida, mas uma flor de lótus, símbolo antigo do despertar espiritual.

 

 
Babilônia

Os babilônios, que sucederam os sumérios na região da Mesopotâmia (2500 a 600 a.C.) consideravam as doenças como formas de interferências de deuses e demônios no organismo humano, sendo assim passíveis de cura através de orações, súplicas e rituais de exorcismo. Apesar desta forte interpretação sobrenatural dos fenômenos que afligiam o homem este povo usava medicamentos sob as formas de macerados, decocções, cataplasmas e linimentos. Diagnosticar as doenças e estabelecer prognóstico por intermédio de adivinhações e tratá-las por meio de exorcismo eram, no entanto, os fundamentos dos atos médicos, sempre praticados por sacerdotes.

O “Tratado do Diagnóstico Médico e do Prognóstico” que se encontra no Museu Britânico, consta de 40 pedras babilônicas dedicadas à Medicina (Sakkiku) datadas de pelo menos 2000 a.C. Na de número BM47733 há registro de vários tipos de crises atualmente reconhecidos como ausências súbitas, desvio da cabeça e dos olhos, automatismos simples e complexos, ocorrência de padrões cíclicos além de crises em série (status epilepticus), aura epigástrica e alucinações auditivas.

No tratado babilônico é enfatizada a natureza sobrenatural da epilepsia sendo cada tipo de crise associado a um espírito ou deus específico – usualmente diabólico. Espíritos diabólicos circulariam durante a noite possuindo ou tocando as pessoas provocando crises com características distintas das diurnas. O tratamento se baseava principalmente em princípios espirituais.

Nesta época, como escravos eram objetos de propriedade, os códigos protegiam seus proprietários contra perdas. O artigo 278 do código de Hamurabi (2080 a.C.), das leis babilônicas, que contém a mais antiga regulamentação da prática da Medicina, estabelecia o direito de anulação da venda de um escravo, homem ou mulher acometida por bennu no período de um mês. No contrato de venda assírio do século 7 a.C. o termo foi estendido por cem dias, sendo incluída como causa para invalidar a venda uma segunda doença, denominada sibtu. Há muita especulação sobre a natureza destas doenças e a de Karl Sudhoff é a mais convincente. Baseado em cuidadosa interpretação filosófica e avaliação das passagens envolvidas, ele chegou à conclusão que bennu era uma doença convulsiva, possivelmente epilepsia, enquanto sibtu era uma doença contagiosa, provavelmente lepra. Nos contratos gregos no Egito Helenístico estas doenças eram mencionadas como causas de devolução de um escravo. O código de Hamurabi estabelecia ainda regras relativas ao matrimônio entre pessoas com epilepsia.


 

Egito

Os egípcios identificaram a epilepsia através de seus hieróglifos com figuras que simbolizavam a entrada de uma pessoa morta ou de um demônio no interior da vítima e a consideravam uma enfermidade sobrenatural e misteriosa (Meinardi, 1989). O papiro cirúrgico de Edwin Smith (1770 a.C.), considerado uma cópia de um manuscrito mais antigo, é apontado como o mais antigo tratado de cirurgia, e sua autoria é atribuída a Imhotep, nome que significa “aquele que vem em paz”, que foi, provavelmente, um ministro e médico do rei Loar, que reinou cerca de 3000 anos a.C.; nele foi citado que as convulsões seriam o resultado da estimulação do cérebro por ferimentos. Os egípcios reconheciam o distúrbio que os gregos mais tarde chamaram de histeria (hysteron, útero) e acreditavam que seus sintomas eram causados por posicionamento anômalo do útero preconizando fumigamento da vagina no sentido de reposicioná-lo. Este tratamento foi adotado pelos gregos e romanos sendo que Hipócrates e Galeno o reconheciam sem reserva.

 

 

Epilepsia como a Doença dos Deuses

A Epilepsia passou a ser denominada Doença dos Deuses provavelmente em referência a Hércules que teria apresentado este distúrbio.


Hércules (Héracles) era filho de Júpiter (Zeus) e Alcmena, uma de suas amantes mortais. Juno (Hera), a esposa de Júpiter e rainha dos deuses, declarou guerra a Hércules desde o seu nascimento. Mandou duas serpentes para matá-lo em seu berço, mas a criança estrangulou-as com as próprias mãos. Pelas artes de Juno, contudo, ele ficou sujeito ao rei Euristeu e obrigado a executar todas as suas ordens.


As imposições de Euristeu constituíram “Os Doze Trabalhos de Hércules”. Hércules era representado como um homem de estatura moderada extraordinariamente forte, voraz, apreciador de bebidas alcoólicas, muito amoroso, geralmente gentil, porém sujeito a crises ocasionais de cólera brutal.



 
Em um de seus acessos de fúria matou uma de suas esposas, a princesa Mégara e os filhos do casal, indo em seguida ao solo, onde dormiu; ao despertar, sob o impacto de uma pedra lançada do céu pela deusa Minerva (Palas), estava curado, porém incapaz de se recordar de todo o episódio. Sonos prolongados e despertares com desorientação, algumas vezes apenas obtidos através da aspiração dos filtros da deusa Palas, permeavam o cumprimento das ordens de Euristeu.


Alguns dos que interpretam a doença de Hérculescomo epilepsia acreditam que os grandes trabalhos a ele impostos o tornaram vulnerável à doença. Outros que apenas um nome como o do poderoso herói pudesse ressoar em consonância com a grandeza da doença. Disse Anatole France: “Havia em Hércules uma doçura singular. Depois de em seus acessos de cólera golpear culpados e inocentes, fortes e fracos, caía em si e chorava. E talvez até tivesse dó dos monstros que andou destruindo por amor aos homens: a pobre Hidra de Lerna, o pobre Minotauro, o famoso leão do qual tirou a pele para transformá-la em peliça. Mais de uma vez, ao fim dum daqueles feitos, olhou horrorizado para a clava suja de sangue... Era robustíssimo de corpo e frágil de coração”. Hércules foi curado por Medéia em Tebas e a afirmação mais importante, após a de Hipócrates, de que teria apresentado epilepsia foi feita em data incerta por um compilador dos “Problemas”, obra atribuída a Aristóteles. Nela, o autor enfatizou o comportamento melancólico do herói, em quem a bile negra teria causado alterações mentais.


Embora não tenha sido afirmado que Hércules apresentasse epilepsia, o autor alista este distúrbio entre as doenças causadas pela bile negra, referindo que os antigos autores a teriam denominado “doença sagrada” em referência a Hércules. Na Renascença, a observação de que todos os homens excepcionais haviam sido melancólicos fez com que florescesse a idéia de que grandes homens seriam particularmente propensos à epilepsia.

 

 
Grécia. A doença sagrada

A civilização grega teve seu início no final do século 13 a.C. e extinguiu-se ao final do século 5 d.C. compreendendo quatro períodos distintos: o período arcaico (séculos 13 a 5 a.C.), no qual as doenças eram atribuídas a fatos sobrenaturais e aos deuses, constituindo a medicina dos santuários; o período clássico (séculos 5 a 4 a.C.) quando a partir da medicina dos filósofos, surgiram as escolas médicas como as de Cnido e Cós que formavam médicos especialistas, inteiramente devotados à profissão e completamente independentes e dignos do mais alto respeito; dela advieram os conceitos éticos da Medicina e a Ética Médica de nossos dias; o período helenístico-macedônico (séculos 4 a 3 a.C.) quando a Grécia foi conquistada pelo Império Macedônico e a medicina transferiu-se para a Escola de Alexandria, onde estudou Galeno; nesta época ocorreu o declínio e extinção da civilização grega clássica e o período helenístico-romano (séculos 1 a.C. a 5 d.C.) com transferência dos conhecimentos gregos para a cultura latina. No período arcaico, do qual herdamos os textos de Homero da Ilíada e Odisséia, os gregos, influenciados pelos babilônios, remetiam a seus deuses a regência integral do comportamento e da natureza do homem que seriam os responsáveis por seus atos, saúde e por doenças que lhes eram infringidas como punições.

Na Ilíada, poema épico que narra o cerco a Tróia, Homero descreveu a figura do Príncipe de Trica, na Tessália, médico acatado e famoso, que aprendeu medicina com o centauro Quironte. Este médico que se tornou conhecido como Asclépio, ou Esculápio dos romanos, sofreu, a princípio, um processo de glorificação e depois, de divinização tornando-se herói sobre-humano e Deus da Medicina.

 


Epilepsia. “Sobre a doença sagrada”

Há várias hipóteses sobre a origem da denominação doença sagrada. Uma delas se baseia na crença de que a doença representaria a possessão por uma divindade ou por um demônio. Outra na de que as pessoas afligidas pelo mal haviam pecado contra Selene, a deusa da lua ou ainda a de que esta constituiria uma doença sagrada, pois sua cura não poderia se processar por meios humanos mas apenas pela intervenção divina. Finalmente, outra razão pela qual a doença pode ter sido chamada sagrada vem da implicação de que em tempos antigos os deuses e os demônios eram igualmente temidos.

No “Corpus Hipocraticus” a epilepsia foi ainda chamada de ‘grande doença’, termo referido como ‘morbus maior’ em latim; na França, na Idade Medieval, tornou-se ‘le grand mal’. No período clássico, apesar do desenvolvimento extraordinário da Medicina, a concepção babilônica ainda foi precursora do título do terceiro livro Hipocrático (400 a.C.) “Sobre a Doença Sagrada” que faz parte do “Corpus Hipocraticus”, obra composta por cerca de sessenta tratados anônimos de médicos-filósofos das Escolas Médicas de Cós (associada ao próprio Hipócrates) e de Cnido, escritos entre os anos 460 e 330 a.C. O manuscrito, escrito por um médico, mas dirigido a legisladores, contém o conceito revolucionário de que esta não se tratava de uma doença sagrada porém de um distúrbio cerebral. “Ela não é mais sagrada do que qualquer outra doença e apresenta como causa, fatores naturais; a suposição de uma origem divina é decorrente da inexperiência humana.

Cada uma das doenças tem uma causa própria, decorrente de fatores externos”. Seu texto renega as crendices supersticiosas e mágicas que cercavam a doença e seu autor não acredita que o “homem possa ser invadido por um deus, significado de extrema pureza”, apregoando que aqueles que asseguram que deuses poderiam causar tal sofrimento são hereges, que a doença é hereditária e que sua causa está localizada no cérebro. Como tal não deveria ser tratada por mágica, mas por dieta e drogas. Hipócrates enfatizou ainda a importância da vida sedentária, sugerindo o controle das crises por mudanças de clima, país e hábitos de vida e o início precoce da doença, excepcional após os 20 anos de idade. Finalmente, reconheceu a variabilidade das manifestações clínicas durante as crises, como no texto: “E eu sei que várias pessoas gemem e gritam durante o sono, algumas parecem em choque enquanto outras levantam e deambulam e apresentam-se comprometidas até o momento em que despertam saudáveis e sensíveis como antes, apenas pálidas e fracas e isto não ocorre uma vez, mas freqüentemente”.

Tais paroxismos não necessariamente eram considerados de natureza epiléptica, pois o autor do texto nega que tais eventos fossem considerados sagrados. Hipócrates recomendou ainda tratamentos físicos chegando a fazer implicações prognósticas ao afirmar que se a doença se tornasse crônica, seria incurável.


 

Roma

No século 1 d.C. a República Romana transformou-se no Império Romano, compreendendo todos os territórios pertencentes ao Império Macedônico incluindo a Macedônia, a Grécia, o Egito, a Palestina e a Síria, transformados em províncias. Os intelectuais e artesãos mais hábeis eram transferidos para Roma como escravos. Os intelectuais gregos passaram a exercer profundas influências sobre a cultura latina e a religião romana. Os homens cultos, os filósofos, os políticos e os médicos do Império Romano cultivaram a retórica, a dialética e as doutrinas filosóficas gregas e a medicina Hipocrática.

Os conhecimentos médicos que nos chegaram da época da criação do Império Romano procedem dos grandes enciclopedistas como Celso e Plínio. Aulo Cornélio Celso, chamado de “Cícero da Medicina” por seu fino estilo literário, nos deixou a primeira história médica organizada, De res medica, uma obra pouco conhecida em sua época e esquecida na Idade Média, que foi descoberta em 426 e, em 1478, tornou-se o primeiro texto antigo de medicina a ser impresso. Caio Plínio Segundo (Plínio, o Velho), viveu de 23 a 79 d.C. e é considerado o maior naturalista romano. Plínio escreveu uma obra monumental, Historia Naturalis, que contém informações de tudo o que pôde pesquisar no passado e ao seu tempo. Em sua obra de 37 volumes, à qual dedicou todas as suas horas durante anos, descreveu remédios obtidos de fontes vegetais, minerais e animais e fez várias referências à saúde pública. Plínio morreu quando satisfazia sua curiosidade sobre vulcões, na erupção do Vesúvio que sepultou as cidades de Pompéia e Herculano.

Na Roma antiga a epilepsia era considerada a antítese da morbus sacer – a morbus demoniacus e a pessoa com epilepsia era considerada impura; acreditava-se ainda que fosse transmitida por contágio. A crença em um espírito demoníaco levou à prática de se defender do mal cuspindo no paciente, daí a denominação morbus insputatus. Morbus comitialis (mal comicial) foi um termo cunhado pelo fato de que a ocorrência de uma convulsão na assembléia ou comitia romana, significava a necessidade de suspensão imediata da mesma, contrária aos desejos dos deuses.

Por milhares de anos a humanidade foi fascinada pelos humores corporais, aprendidos de Hipócrates. Os quatro mais importantes incluíam o sangue, a bile negra e amarela e a fleuma. Como causa de epilepsia, a fleuma das artérias era levada à cabeça, resultando em interrupção do suprimento aéreo. Acreditava-se que o sangue circulasse apenas nas veias que o transportavam ao coração enquanto as artérias veiculavam ar. A presença de saliva espumante na boca de uma pessoa no momento de uma crise era uma prova do acúmulo de fleuma. Entre os predecessores de Galeno que enfatizaram a epilepsia, a que denominava mal de Hércules, destacou-se Areteu de Capadócia, que viveu na metade do primeiro século desta era. Areteu acreditava na possessão demoníaca embora já antecipasse a necessidade da recorrência crônica das crises para o diagnóstico de epilepsia e separasse os sinais premonitórios das auras que antecedem imediatamente a crise: entre os primeiros, estupor, vertigem, tensão nos membros, ingurgitamento e edema das veias do pescoço, aversão aos alimentos, vômitos e flatulência enquanto, na proximidade na crise, o aparecimento de luzes vermelhas, negras ou de ambos os tipos sob a forma de arcos, semelhantes aos do arco-íris ou alucinações auditivas, maus odores, irritabilidade e nervosismo imotivados. Descreveu ainda os fenômenos ictais da crise tônico-clônica separando-os em três fases, a fase inicial, de manifestação, caracterizada por insensibilidade e convulsão tônica e depois clônica, sufocação e, no final da mesma, ereção genital; a de abatimento, com emissão de urina, fezes, sêmen e fluxo de saliva, representando a emissão da fleuma, sinalizando o término da sufocação. O aparecimento destes sinais indicava a extinção da possessão e, finalmente, a fase de trégua, durante a qual persistiriam ainda vários sinais de desconforto físico e psíquico.

Cláudio Galeno, de Pérgamo, médico grego que após quatro anos de experiência como médico de gladiadores transferiu-se para Roma onde viveu ao redor de 131 a 201 da nossa era, exerceu uma autoridade que não foi discutida por 1500 anos e entre seus 400 trabalhos, escreveu Ars Magna, considerado o texto médico básico na Idade Média.

Se Hipócrates é considerado um dos fundadores da medicina grega, foi através do galenismo que este conhecimento foi transmitido à Renascença. A grande aceitação de Galeno deveu-se à qualidade de sua obra e ao fato de que, embora não cristão, acreditava em um só Deus apregoando que o corpo era instrumento da alma. A essência do método de Galeno era anatômica e experimental, tendo efetuado estudos fisiológicos em animais e lesões cerebrais e raquidianas para traçar vias nervosas. Galeno acreditava que a fleuma produzida no braço ou perna se propagava ao resto do corpo e que esta seria a razão pela qual as crises que se iniciavam em um membro acometiam sucessivamente outras de suas partes. Em decorrência deste fato preconizava como tratamento aplicação de um torniquete e, até mesmo, amputação, como se fazia para interromper a disseminação de substâncias lesivas em acidentes ofídicos. Se as crises não apresentavam início localizado, era usado um método mais drástico para remover a fleuma que havia alcançado a cabeça, o da trepanação, que permitia a drenagem através de um orifício triangular feito na parte posterior do crânio, pois se acreditava que a fleuma assumia um trajeto descendente da convexidade para a base da cavidade craniana.

Causas e tratamento da epilepsia A doença da lua. A influência lunar nos transtornos afetivos e na epilepsia.

A visão de Hipócrates sobre epilepsia como um distúrbio cerebral só retornaria nos séculos 18 e 19. Os quase 2000 anos que os separam foram dominados pelo conceito advindo da Antigüidade da influência de forças sobrenaturais. Ele foi reforçado, por exemplo, na descrição de Cristo afastando o demônio de um menino com epilepsia, chamado de “lunático” (Marcos, 9 : 14-29, passagem também citada por Mateus e Lucas).


 
Na Antigüidade, como ocorreu com várias outras doenças periódicas, especialmente as que afetam a mente, acreditava-se que a epilepsia fosse controlada por corpos celestiais, particularmente pela lua, que não seria um mero satélite da Terra, mas também uma divindade.

No início de nossa era, com o cristianismo, a epilepsia deixou de ser atribuída à vingança de Selene, deusa da lua, surgindo explicações naturais de que o aquecimento da atmosfera terrestre pela lua derreteria o cérebro, promovendo crises. Galeno sugeriu uma explicação astrofísica segundo a qual o efeito da lua na periodicidade das crises dependia da maior ou menor influência que o satélite recebia do sol sendo que seus efeitos atingiriam maior magnitude na lua cheia. Da mesma forma objetos influenciados pela lua poderiam ser usados para expor ou impedir a ocorrência de uma crise. O toque na pessoa com doença sagrada com azeviche ou com pedra caristiana, uma substância semelhante a asbestos usada como pavio de velas cuja chama aumenta ou esvaece conforme as fases da lua, promoveria o desencadeamento imediato de uma crise. No início do século 19, com a aplicação dos primeiros métodos estatísticos, surgiram dados científicos sobre esta relação como os de Leuret, que acompanhou as crises diárias de 70 pacientes durante um ano e não encontrou correlação das mesmas com as fases da lua e os de Moreau que também chegou a resultados negativos analisando 42637 ataques de 108 homens em cinco anos.


 

No século 16, Ferdinandus descreveu o caso de um indivíduo que apresentou crises após passar uma noite de verão sob uma oliveira, numa atmosfera tépida, úmida, inundada pela luz quente da lua. Desde a Antigüidade a idéia de que o cérebro das pessoas se altera em simpatia com a lua, fez ainda com que, já no penúltimo ano deste milênio, Raison et al.(1999) buscassem uma nova forma de interpretação deste fenômeno baseados em conceitos médicos atuais. Segundo estes autores, a luz da lua poderia influenciar a freqüência de crises, pois antes do advento dos sistemas de iluminação modernos a iluminação noturna pela lua, especialmente na fase de lua cheia, afetaria o ciclo nictemeral, causando privação de sono, que seria suficiente para induzir surtos de mania ou hipomania em indivíduos com transtornos afetivos e crises em pessoas com epilepsia.


 

A vida sexual

Celso considerava a epilepsia mais comum no homem do que na mulher e influenciada pela vida sexual. O ataque epiléptico era comparado ao ato sexual e tanto Hipócrates como Demócrito afirmavam que o “coito é um ataque epiléptico leve”. A puberdade era considerada decisiva no curso da epilepsia sendo afirmado nos textos Hipocráticos que muitas pessoas podiam parar de apresentar crises neste período; caso isto não ocorresse, a doença seria considerada incurável. Conseqüentemente, alguns atribuíam a cura nesta faixa etária ao primeiro ato sexual e aconselhavam até mesmo a violência do coito, inadequada à natureza da criança, a fim de apressar o efeito benéfico.

A maioria pensava que o coito era prejudicial à pessoa com epilepsia e aconselhava abstinência sexual, sendo preconizada até mesmo a castração. Distúrbios na esfera sexual eram tidos como fatores etiológicos. Galeno considerava a influência do ato sexual em época inadequada e Hipócrates, a interrupção da menstruação. Na Antigüidade a influência do ato sexual sobre epilepsia foi muito discutida e na Idade Média e Renascença prevalecia a idéia de que os excessos sexuais eram prejudiciais às pessoas com epilepsia, embora a abstenção sexual completa também podia desencadear eventos epilépticos. Na segunda metade do século 18 este ponto de vista foi fortemente enfatizado. Tissot considerava que “excessos sexuais causavam crises epilépticas até mesmo nas pessoas mais fortes, que nunca as havia apresentado”. Por outro lado, ele admitia que o excesso de contenção sexual ocasionava o mesmo efeito.

Do ponto de vista contemporâneo estas opiniões são compreensíveis, pois a interpretação fisiopatogênica da doença envolvia paixões excessivas e humores desintegrantes. No entanto, ao mesmo tempo, a atenção médica passou a se concentrar não mais nos excessos sexuais mas sobre a masturbação. Nos séculos iniciais desta era, a religião condenava este hábito que por este motivo, naquele momento, foi considerado culpado da origem de várias doenças. No seu livro “Sobre a masturbação”, que se tornou um clássico no assunto, Tissot resumiu as observações dos médicos antigos, de seus contemporâneos e dele próprio, descrevendo as conseqüências prejudiciais da masturbação – entre as quais epilepsia constitui uma das principais. Ele assinalou que a masturbação é muito mais perigosa do que o mero ato sexual inconseqüente. “A grande quantidade de sêmen perdida no ato sexual natural produz efeitos terríveis; mas seus efeitos são ainda mais danosos quando a mesma quantidade é dissipada de forma não natural.

Os acidentes que ocorrem por tal desperdício de forma natural são horríveis e aqueles provocados pela masturbação são ainda piores”. Tissot discorreu sobre as várias razões pelas quais isto ocorreria, as quais, contudo, não parecem convincentes: “Os masturbadores se sujeitam a desejar sem serem desejados. É a imaginação, o hábito e não a natureza que os importuna”. Por mais de cento e cinqüenta anos a masturbação figurou como uma das principais causas de epilepsia na literatura médica. Há poucos autores que não a enfatizaram ou que não a mencionaram. Schroeder van der Kolk (1797-1862), que atribuía a epilepsia à hiperexcitabilidade do bulbo, assinalou entre os irritantes “... acima de tudo, a prática de onanismo, que age sobre o bulbo e deve ser considerado uma causa importante de epilepsia”.

A superstição alcançou o máximo no último terço do século 19, quando foi considerado o recurso da clitoridectomia e da castração em casos extremos. A castração foi ainda preconizada em casos de suposta epilepsia simpática que constituía um princípio fisiopatogênico vigente na época, nos quais as crises teriam origem nos testículos. Mas a castração visava principalmente interromper a masturbação e assim curar a epilepsia. Em 1881 Gowers assinalou que a castração não apresentava benefícios no tratamento da epilepsia, embora o eminente professor londrino acreditava que a circuncisão poderia ter sucesso nos casos associados à masturbação. A masturbação foi considerada causa importante não só de epilepsia como também da doença mental. Esta relação foi discutida detalhadamente por Hare em seu artigo “Insanidade masturbatória”. No século 19, todas as estatísticas consideravam a masturbação, os distúrbios menstruais e sexuais entre as causas mais freqüentes de epilepsia.

Crises epileptiformes na mulher grávida (eclâmpsia) também foram observadas e atribuídas ao útero. “Tem-se verificado na mulher grávida que a epilepsia se origina no útero e cessa após o parto”. O útero e os ovários iriam ainda ser considerados como origem da histero-epilepsia no final do século, principalmente nos trabalhos desenvolvidos na Salpêtrière liderados por Charcot .

 


Epilepsia como doença infecciosa

Durante uma época se acreditou que a epilepsia fosse uma doença infecciosa, causada por vários venenos ou toxinas que invadiam o corpo a partir do exterior. As convulsões representavam a tentativa do corpo de se livrar destas substâncias lesivas exatamente da mesma forma que os soluços representavam uma tentativa do estômago de se esvaziar de alimentos nocivos. A suspeita de que a epilepsia pudesse se tratar de uma doença infecciosa contribuiu para o aumento extraordinário em sua discriminação.

Em Roma, como medida preventiva, o costume de cuspir na pessoa com epilepsia representava uma tentativa para manter os espíritos diabólicos fora de si próprio. Na Europa medieval também se acreditava que epilepsia era uma doença infecciosa, o que fazia com que as pessoas com crises fossem segregadas na Igreja não podendo participar da Eucaristia para que não contaminassem e assim não profanassem o prato e o copo da comunhão.

Médicos suspeitavam que o contágio se processasse pela respiração. Em Basiléia, o conselho da cidade ordenou que as pessoas com epilepsia não poderiam vender alimentos ou bebidas e que deveriam ser expulsos da cidade. Siegmund Albich, um professor do século 15 escreveu “Não fale nem se banhe com eles, pois sua respiração pode infectar as pessoas”. Assim, como algumas vezes ainda hoje, a doença era vista como uma maldição, algo que só se poderia desejar ao pior inimigo. Martinho Lutero imprecava à Igreja Católica ‘praga, sífilis, epilepsia, escorbuto, lepra e carbúnculo’ e denominava a epilepsia morbus daemoniacus.

A origem infecciosa da doença prevaleceu ainda no início deste século, quando se preconizou colectomia ou vacinação para a erradicação do Bacillus epilepticus em algumas formas de epilepsia.


 
 

Idade Medieval. Morbus caducus. A doença das quedas

Na Europa, durante a Idade Média (que compreendeu o longo período desde a conquista do Império Romano Ocidental pelos povos germânicos em 476 d.C. até a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453 d.C.), a doença sagrada passou a ser conhecida comumente como doença das quedas.

Durante este milênio, povos de várias origens e idiomas lutaram para sobreviver numa Europa torturada pelas rivalidades e pela peste, saindo do barbarismo para uma sociedade de homens, baseada em ordem, caridade e no amor a Deus. As sucessivas pestes como a do Vesúvio em 79, a de Orose em 125, a peste Antonina em 164 que durou 16 anos, a de Cipião em 251 e a Justiniana no ano 312, coincidiram com a ascensão do cristianismo e um descrédito para a arte de curar, incapaz de sustar as repetidas ondas de epidemias e um recrudescimento da fé nos meios sobrenaturais. Nesta época, poucos foram os nomes que se destacaram na Medicina. Entre eles, Avicena (980-1037), médico árabe de origem persa, “...mistura de libertino e asceta, dedicado ao vinho (para suportar as prolongadas vigílias sobre os livros) e às libações de cocaína assim como às abundâncias dos haréns” a quem devemos o uso da palavra “epilepsia” e o termo “mater puerorum”, sugerindo a freqüência das convulsões na infância.



Com o crescimento da influência da Igreja Católica as pessoas passaram a esperar o auxílio de santos e relíquias sendo a terapia medieval baseada na expulsão de humores corruptos por purgações, eméticos, sangrias e enemas.

Entre estas medidas terapêuticas, a sangria talvez tenha sido a mais utilizada e seu princípio se baseava na crença de que a doença era causada por excesso de fluido (plethora). A sangria desviava o material causador da doença e o forçava a se deslocar de um órgão para outro. Quando o sangue era tirado do lado do corpo oposto ao da doença, era revulsivo; mas se tirado do mesmo lado, era derivativo, aliviando a dor do paciente. Havia instruções detalhadas sobre os melhores dias e horas para a realização de sangria bem como as melhores veias para se trabalhar e qual a quantidade de sangue a ser tirado. Tirar sangue era prática comum nos banhos públicos, também considerados uma espécie de terapia.

Uma das medidas preconizadas para tratamento de epilepsia era a aplicação de sanguessugas na região do baço com objetivo de desviar o material mórbido da cabeça para este órgão, sobre o qual eram aplicados fezes de pombos e ovos de corvos, promovendo febre, a qual, como a malarioterapia, poderia curar epilepsia.



 
Cauterização era também preconizada, devendo ser realizada no occiput ou no bregma, sendo recomendado que o cautério queimasse desde o crânio até as meninges. As mães cauterizavam suas próprias crianças visando a remoção da fleuma e dos humores demoníacos do cérebro.

A conversão do Imperador Constantino e a ascensão do Cristianismo no século 4 d.C. introduziram o conceito de que Deus provê e que nada cabia ao homem diante da providência divina. As curas passaram a incluir orações, jejum, rogar auxílio aos santos e, freqüentemente, peregrinações às suas sepulturas.


 

Os santos

Entre os santos associados à doença estão São João, São Vito, São Valentim e Santa Bibiana. São João provavelmente se refere a São João Batista, cujo nome é ligado à erva de São João (Hypericum perforatum), planta cujas manchas avermelhadas na parte inferior de suas folhas contendo glândulas com óleo, simbolizam seu sangue ao ser decapitado por Herodes sob a cruel insistência da filha Salomé. A erva, quando infundida em óleo e exposta à luz solar, gradualmente tinge o líquido de cor vermelha rutilante, o sangue de São João. Ainda hoje muito utilizada no tratamento dos transtornos afetivos e do humor, afasta os demônios e substâncias tóxicas da mente, corpo e espírito, promovendo calma, entusiasmo e vitalidade.

Uma das teorias sobre a ligação de São João Batista à epilepsia, se refere ao fato de que sua cabeça caiu ao ser decapitado. Na França, uma designação popular da doença era mal de São João.



 
O nome de São Valentim, o santo mais fortemente ligado à epilepsia, possivelmente se refere a dois mártires legendários cujas vidas tiveram bases históricas. O primeiro foi um pregador e médico romano martirizado durante a perseguição dos cristãos e enterrado na Via Flamina onde o Papa Júlio I erigiu uma basílica e o outro foi bispo de Terni na Itália. Eventualmente, trata-se de versões diferentes sobre a mesma pessoa. A associação de São Valentim à epilepsia provavelmente se originou na Alemanha e etimologicamente decorre do fato que nos dialetos do sul daquele país (também falados na Áustria, Suíça e partes da França e Itália na fronteira com a Alemanha e Áustria) a primeira letra deste nome é pronunciada com “f”. Na resultante “Fallentin”, a inversão do “en” origina “Fall net (h)in” palavra que nestes dialetos significa “não caia!” (o sufixo “net” equivale ao “nicht” no alemão do norte). Valentim teria sido julgado e condenado em 260 d.C. sob Cláudio, o Godo, em 14 de fevereiro (dia de São Valentim). Locais de peregrinação ao mártir incluíram Roma e Terni na Itália, Ruffach na França, Poppel na Bélgica e Passau na Alemanha.

Patrono dos namorados, pois secretamente realizava a união de casais cristãos desafiando a lei do Imperador Cláudio que impedia seu matrimônio, ele é evocado contra epilepsia, cólera e desmaios tendo se tornado tão popular para os epilépticos que, no final do século 15, foi construído um hospital para estes pacientes no convento de São Valentim em Ruffach, na Alsácia. A peregrinação a Ruffach terminou com a revolução francesa, pois Ruffach fica próxima a Strasbourg, uma das cidades mais importantes na revolução. Seus edifícios foram destruídos na segunda metade do século 19 e do local de peregrinação restam apenas alguns resquícios. Na paróquia da igreja da Virgem em Ruffach há um relicário com uma pequena parte do crânio de São Valentim.

 

 
 

 
 
A conduta em uma crise epiléptica.




O Renascimento

A conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453 d.C., é tida como sendo o marco histórico que indica o fim da Idade Média e o início da Renascença. A mais notável faceta do Renascimento foi o movimento humanista, iniciado no norte da Itália, que reviveu o espírito da Antigüidade clássica através do estudo reverente dos autores gregos e latinos, possível pela chegada à Itália dos estudiosos foragidos de Constantinopla. Ainda nesta época prevaleciam no ensino médico as doutrinas Hipocráticas e Galênicas, embora a anatomia e a fisiologia humanas tenham sido enriquecidas pelas dissecações do corpo humano e pela contribuição de importantes pintores e escultores. Entre as primeiras, a de Andreas Vesálio (1515-1564), de Bruxelas, cirurgião e médico, professor da Universidade de Pádua, que em 1.543, aos 28 anos de idade, publicou sua obra prima, De Humani Corporis Fabrica Libri Septem, conhecida universalmente como Fabrica, tratado constituído por sete livros baseado em Galeno cujo conteúdo ricamente ilustrado, permitiu a expressão visual perfeita de conceitos anatômicos.

O sétimo livro desta obra era inteiramente dedicado ao cérebro e aos órgãos dos sentidos. Nele Vesálio corrigiu cerca de 200 erros galênicos, entre eles o da existência de orifícios entre os ventrículos cardíacos. Para a mais magnífica obra de xilografia jamais produzida, contribuíram discípulos de Ticiano (e possivelmente o próprio pintor) e o impressor Johannes Oporinus, da Basiléia, para onde as obras eram enviadas sobre mulas através dos Alpes. Entre as contribuições de artistas, detaca-se a de Leonardo da Vinci (1452-1519) que, baseado em suas dissecações em animais e em cadáveres humanos produziu uma grande série de desenhos e esboços anatômicos de todo corpo humano.



O século 16. Paracelso (1493-1541)

No século 16, Paracelso, um importante médico suíço que adotou este nome em substituição a Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim por acreditar-se superior a Celso, usou conceitos conflitantes sem disciplina científica. Atirou na fogueira as obras de Avicena e Galeno por considerá-las obsoletas e terem desvirtuado os princípios hipocráticos, dos quais era ardoroso defensor. Seus livros eram ricos em informações, advindas de fontes variadas que incluíam desde vagabundos, açougueiros e barbeiros a professores, pois Paracelso foi convidado a lecionar na universidade da Basiléia. Como alquimista, tratava epilepsia com uma mistura de religiosidade, alquimia, mágica (partes do crânio e do sangue da cabeça de um homem decapitado) e astrologia (removendo o paciente da influência das estrelas). Entretanto, acelerou o uso de substâncias químicas no tratamento como ópio, ferro, cobre, mercúrio e enxofre popularizando a utilização de tinturas e extratos alcoólicos. Neste período e durante todo o século 16, a Igreja Católica desencorajou explicações sobrenaturais para a doença, mas não as curas religiosas, que também eram encorajadas por Paracelso . Em seu livro “As Doenças que Privam o Homem de sua Razão”, Paracelso afirmou:

A doença [epilepsia] ocorre não apenas no homem mas em todas as criaturas vivas, que também caem em paroxismos semelhantes aos que acometem o homem. Algumas espécies de animais sofrem a doença de forma hereditária e por este motivo são por ela impregnados, de tal modo que nenhum de sua espécie deixa de apresentá-la como pode ser verificado no esquilo e no leão, os quais tornam-se doentes sem causa aparente.... Os terremotos e a doença das quedas têm as mesmas causas... pois o movimento da Terra é também o movimento do homem e todos os que vivem na Terra o experimentam.

Paracelso (1567), citado por Lennox na abertura do primeiro volume de sua obra de 1.960

 

O século 18. O Iluminismo

A Europa do século 18 foi o berço de uma revolução intelectual que varreu os remanescentes da anarquia feudal e do dogmatismo medieval. Os homens passaram a crer que, aplicando as imutáveis leis da natureza à política, à filosofia, à ética, à religião e à economia, poderiam construir a sociedade perfeita.

http://www.epilepsiabrasil.org.br/

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

EPILEPSIA - Dieta Cetogênica




INTRODUÇÃO
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A dieta cetogênica é uma dieta terapêutica precisamente calculada baseada na altura, idade e peso ideal da criança. É rica em gorduras, moderada em proteínas e pobre em carboidratos. Quando ingerida permite uma incompleta queima das gorduras pelo fígado resultando em corpos cetônicos no sangue e urina. Estes corpos cetônicos serão utilizados para produção de cetose que é importante para o tratamento das crises. Esta dieta permite uma adequada nutrição, que é necessária para o crescimento e funções normais do corpo. É chamada dieta cetogênica porque ela faz com que o paciente esteja num constante estado de cetose.
Para iniciar a dieta o paciente deve ser admitido em hospital, permanecendo em jejum de alimentos sólidos e líquidos por aproximadamente 36 horas ou até que apresente cetonúria intensa, quando então é iniciada a dieta. Na fase de jejum existe o risco de hipoglicemia e desidratação, e após a fase de jejum existe o risco de desidratação, em alguns casos devido a recusa do paciente a dieta. Essa é calculada de forma que 90% das necessidades diárias sejam obtidas a partir de gorduras e apenas 10% de hidratos de carbono e proteína. Para obter essa proporção, quatro partes da dieta são constituídas de gorduras e uma parte de carboidratos e proteínas (relação 4:1). Antes de iniciar o jejum, introduzimos a pré-dieta, em que diminuímos os carboidratos, as proteínas e aumentamos a concentração de gorduras, assim, há uma adaptação melhor à dieta cetogênica.



DIETA CETOGÊNICA - ORIENTAÇÕES GERAIS
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A seguir, daremos algumas orientações gerais sobre a dieta cetogênica:
  • A dieta cetogênica é planejada individualmente. Não forneça sua dieta para outros pacientes.
  • O tratamento com a dieta será feito por 2 ou 3 anos.
  • No primeiro mês a dieta requer um ajuste. Mantenha sempre as anotações da cetonúria e variações do peso.
  • Após o período de ajuste a dieta permanecerá sem mudanças.
  • O jejum é o primeiro passo para o início da dieta cetogênica.
  • O jejum consome os estoques de glicose, forçando então o corpo a queimar as gorduras.
  • A incompleta queima das gorduras produz os corpos cetônicos que com o passar do tempo vai subindo no sangue e na urina.
  • O jejum provoca uma mudança no corpo trocando a forma de energia que o nosso corpo usa em condições normais, ou seja, troca a utilização da glicose para a utilização das gorduras. O jejum provoca cetose ou seja aumento dos corpos cetônicos podendo ser medida através da urina, pela fita de cetonúria.
  • Os corpos cetônicos são medidos na urina. Uma medida de 4+ indica um alto nível de cetonas na urina. Uma leitura de 3+ ou 2+ indica um moderado nível de cetonas na urina. Uma leitura de 1+ indica um baixo nível de cetonas na urina. Lembre-se que quanto maior o nível de cetonas melhor o controle de crises.
  • Os corpos cetônicos tem um efeito sedativo e um efeito supressor do apetite.
  • Cetose significa que as cetonas aumentaram no sangue e urina. Quanto mais profunda a cetose, melhor o controle de crises.
  • A dieta cetogênica mantém esse processo e é desta forma que pode ocorrer o controle das crises epilépticas.
Gorduras:
  • Para que a criança se acostume com a ingestão de gorduras, a dieta será iniciada por partes.
  • Todos os alimentos são pesados numa escala de gramas. Isto inclui o óleo e o creme de leite.
  • Na primeira, segunda e terceira refeições será oferecido um terço das calorias calculadas. Se a dieta for bem tolerada, na quarta, quinta e sexta refeições será oferecido dois terços das calorias calculadas.
  • As gorduras fazem com que haja um tempo maior para que venha a fome. Não se deve esperar por qualquer ganho de peso durante o primeiro ano da dieta, ainda que ocorra crescimento normal da criança. Você não pode alimentar demasiadamente a criança e obter ao mesmo tempo bons resultados em termos de controle de crises. O ganho de peso e muitas calorias negativam o efeito da dieta.
Líquidos:
  • Os líquidos são restringidos para manter a desidratação parcial. Eles são limitados a aproximadamente 1 ml por caloria da dieta e 120 ml a cada tomada espaçando entre 1 hora e meia e 2 horas entre uma tomada e outra. Os líquidos são limitados à água, gelo, ou até 1 caloria por dia de chá, soda ou guaraná diet ou café descafeinado.
  • Use sempre um copo graduado para medir líquidos.
  • Se a criança perder a cetose por comer ou beber algo não permitido será necessário deixá-la sem alimentar-se por uma ou duas refeições até que a cetonúria volte a 4+.
  • Vitaminas serão usadas para complementarem a dieta, quando necessárias. Os suplementos vitamínicos assim como a pasta de dente devem ser livres de açúcar. Qualquer outra medicação que a criança use também tem que ser livre de açúcar.
Açúcar:
  • Os açúcares vem com muitos nomes diferentes e geralmente esses nomes terminam em ose, exceto celulose que não é transformada em açúcar. Evite os seguintes nomes: dextrose, lactose, sucrose, glucose, sorbitol, galactose, manitol, frutose e maltose.
  • A leitura de rótulos consome tempo, mas é necessário para um bom controle. Você pode necessitar entrar em contato com o fabricante para maiores detalhes. Faça isto sempre que for preciso. Cuidado com as chamadas comidas dietéticas: são ditas como livres de açúcar, como chicletes e doces, mas podem conter manitol e sorbitol. Outros itens considerados como livres de açúcar como suco de limão, mostarda, gelatina, chocolate em pó ou sopas não são totalmente sem açúcar e devem ser calculados na dieta se forem usados.
Ocasiões Especiais:
  • Em ocasiões especiais como aniversários e festas, uma gemada cetogênica (ovos especiais liofilizados) poderá ser dado como alimento extra para fazer um bolo ou uma sobremesa congelada especial. A nutricionista lhe dará as instruções.
  • Uma vez na dieta a proporção de 4:1 é usualmente mantida por um período de aproximadamente um ano, dependendo do progresso. Se tudo for bem a dieta será trocada para a proporção de 3:1 por um período de 6 meses. Se tudo mantiver bem durante a dieta será trocada para 2:1 por um período de 6 meses. Depois disso a criança poderá gradualmente voltar a alimentação normal.
Complicações:
  • Dentre as complicações a curto prazo incluem: desidratação, hipoglicemia, vômitos, diarréia e recusa alimentar.
  • E as complicações a longo prazo incluem: cálculo renal, infecções recorrentes, alterações metabólicas incluindo hiperuricemia, hipocalcemia, acidose, hipercolesterolemia, aumento de triglicérides, irritabilidade, letargia e recusa alimentar.
  • Serão realizados exames metabólicos de controle a cada 3 meses, dentre eles: dosagem de colesterol, triglicérides, ácido úrico, hemograma completo, dosagem de cálcio, sódio, cloro, potássio, glicemia, gasometria venosa, eletroforese de proteínas. Realização de ultrassonografia abdominal e eletroencefalograma a cada 6 meses. 


    Recusa na Alimentação:
    Freqüentemente a criança se recusa a alimentar-se ou deixa parte da refeição ou pede outros alimentos. A criança poderá chorar atirar coisas, etc. Você deverá ter o controle da situação, portanto haja desta forma:
    1. Prepare a refeição. Você pode por exemplo perguntar se a criança prefere carne ou atum antes da preparação.
    2. Uma vez preparada coloque em frente da criança. Espere 20-25 minutos para que ela se alimente.
    3. Se a criança não comeu ou comeu apenas parte retire tudo e não dê outro alimento até a próxima refeição. Continue repetindo o mesmo processo em cada refeição. Quando a criança estiver realmente faminta, ela irá comer toda a refeição e vai entender o que ela pode comer e que tem horários certos para refeições. Neste momento você tem controle sobre a criança. Nunca use alimentos para punir a criança. Cuidados Finais: " Procure por mudanças positivas, siga a dieta exatamente como planejada. Mantenha sempre em contato com a equipe médica e com a nutricionista. Mudanças nos planos de refeição poderão ser feitas se necessário.Um terço das crianças que fazem a dieta cetogênica terão suas crises controladas. Metade do restante irá melhorar muito a freqüência de crises. Nós não sabemos e nem você sabe se sua criança está ou não nesse grupo em que as crises serão completamente controladas e a única forma de saber é usando corretamente a dieta. " Um período mínimo de 1 mês é necessário para sabermos a resposta da dieta. Ao fim deste período nós e vocês decidiremos se vale ou não continuar. " E temos certeza de que com a ajuda do Grupo cetogênico, e principalmente da sua colaboração os resultados serão altamente positivos.
    DIETA CETOGÊNICA - A PIRÂMIDE
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    A Pirâmide da Dieta Cetogênica é um outro modo de cada um saber o que se deve incluir na alimentação para satisfazer em parte suas necessidades alimentares e obter um controle da epilepsia refratária.
    É identificada como uma dieta altamente lipídica (90% a 92%); normoprotéica (8% a 10%) e hipoglicídica (2%). Os alimentos estão agrupados segundo os nutrientes que predominam na sua composição e as áreas que ocupam são proporcionais às quantidades aconselhadas diariamente. As doses indicadas são as seguintes:
    • Gorduras e óleos- 8 a 15porções;
    • Carne, peixe, aves, ovos - 2 porções;
    • Hortaliças e legumes - 2 a 5 porções;
    • Leite, iogurte e queijo - 1 a 2 porções;
    • Frutas - 1 a 2 porções;
    • Leite, iogurte e queijo - 1 a 2 porções;
    • Leguminosas - 1 porção;
    • Pão, cereais, arroz e massas - ¼ de porção.
    Portanto, basicamente a alimentação deve ser constituída por gorduras associadas a hortaliças, legumes e frutas; os alimentos em que predominam as proteínas em menor quantidade, as leguminosas secas e os açúcares, massas e cereais em mínimas porções quando indicado.
    O açúcar nem sequer é considerado um alimento e não aparece, pois o mesmo deve ser substituído por adoçante à base de sacarina e ciclamato de sódio.
    Resumindo: embora razoavelmente equilibrada, a pirâmide faz muitas concessões aos hidratos de carbono em prejuízo das vitaminas, dos minerais e da água; também confere um papel mais importante às gorduras animais, ao conceder à carne e ao peixe um peso idêntico ao do leite.
    A dieta cetogênica somente deverá ser prescrita por um profissional capacitado a estar calculando com a máxima fidedignidade, caso contrário repercutira em danos graves à saúde do paciente.
    Ana Maria Figueiredo Ramos CRN3 7622
    Nutricionista da Dieta Cetogênica
    A.B.E. - UNIFESP - S. P., Brasil.
    Orientações ABE
    • Faça suas perguntas e o Grupo Cetogênico irá responder.
    • Dispomos de folhetos com orientações aos pais familiares e/ou cuidadores.
    • Livro sobre a dieta cetogênica contendo orientação sobre:
      • O que é a dieta?
      • Como calcular.
      • Receitas elaboradas, testadas e aprovadas.
    • Temos uma cozinha experimental, onde as nossas nutricionistas darão todas as informações, cálculos e preparo das refeições.
    • Realizamos intercâmbio de internação e treinamento para profissionais interessados em trabalhar com a Dieta Cetogênica.
    • Se estiver interessado nos procure que iremos atendê-lo com muito carinho e dedicação.
    • Contamos com vocês para dimensionar o verdadeiro papel da Dieta Cetogênica, tão gratificante de atender pacientes com epilepsia de difícil controle.
    DIETA CETOGÊNICA - BEIJINHO DIET
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    Ingredientes:
    • 1 receita de leite condensado caseiro diet - 259g
    • 50g de coco ralado - 3 ½ colheres de sopa cheia
    • 2 colheres de sopa de margarina BECEL® - 50g
    Modo de Preaparo:
    Em uma panela, colocar o leite condensado diet caseiro, a margarina e o coco ralado. Levar ao fogo baixo, mexendo sempre, até desprender do fundo da panela. Untar um prato fundo com margarina e colocar a massa, esperar esfriar. Fazer bolinhas, colocar um cravo da índia em cima de cada bolinha para decorar.
    Rendimento: 35 porções
    Composição Nutricional Por Porção (Cada porção 10,26g):
    Valor Calórico = 30,40 Kcal
    Carboidrato = 1,38g
    Proteínas = 0,87g
    Lipidios = 2,23g




    http://www.epilepsiabrasil.org.br/


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